domingo, 1 de junho de 2008

Uma caminhada com destino ao não-dito


O trabalho de hoje é uma caminhada que se apóia em recursos performáticos para o seu desenvolvimento. O condutor foi o pesquisador obscênico Clóvis, que anunciou mais ou menos os seguintes princípios:

“Nós vamos sair daqui desta sala, para uma caminhada, onde não sabemos ainda aonde ir, vamos nos comunicar por meio de outro viés, não vamos falar. Saindo daqui, cada um observe o lixo da rua e recolha aquilo que de alguma forma lhe chamar atenção”.

E assim foi:

O centro da cidade de Belo Horizonte.
As calçadas.
Lançar um olhar no lixo urbano, um barulho imenso: buzina de carro, sirene de polícia e ambulância, gritos, choro de crianças, latido de cachorro, desabafo de trabalhadora cansada...
Bilhetinhos, homens e mulheres jogados pelo chão feito “lixo humano”, o descaso.
A publicidade invasiva.
O saco de pipoca, o galho da árvore, a sujeira, a rodela de limão, as bitucas de cigarro, as flores, os vários saquinhos de pipocas e chips, o curativo rasgado, o adesivo comprovando os doadores de sangue, os panfletos anunciando as palavras da Bíblia...

De alguma forma, todo este percurso me remeteu ao documentário “ Estamira”, que tem como protagonista Estamira Gomes de Sousa, ex-catadora de lixo do aterro sanitário Jardim Gramacho, o maior da América Latina.

Os elementos que me fizeram remeter a pesquisa do Obscena (que chamei de “Caminhada com destino ao não dito”) a esta “ filósofa”(Estamira) foram: o lixo urbano, as profecias escritas nos papéis que peguei na rua, as falas que eu comecei a ouvir e depois eram cortadas ao meio, a figura da Lica (pesquisadora obscênica, que fez o seu trajeto/caminhada, com um pau enorme na mão pelo centro de BH, quase uma Antônia Conselheira), o cheiro dos bueiros... todos esses elementos de alguma forma estão presentes tanto no documentário “Estamira” como nesta “caminhada com destino ao não dito”, realizada pelo agrupamento Obscena.

Estamira é a mulher que busca a sua sobrevivência por meio das montanhas de lixo; os obscênicos foram os pesquisadores que se apoiaram em recursos performáticos e lançaram um olhar no lixo urbano para almejar um modelo não-representacional.

Nenhum comentário: